sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Onde, aonde ou nenhum dos dois?

Muita gente tem esta dúvida: quando usar onde e quando usar aonde? Para começar a esclarecê-la, vamos à definição destas palavras no dicionário.

Onde: advérbio que significa em que lugar, em qual lugar.
Aonde: advérbio que significa para onde; para que lugar ou para o lugar que; a que lugar, ao qual lugar.
(Adapatado de: dicionários eletrônicos Aulete Digital e Houaiss)

A diferença é sutil, mas importante. Podemos perceber que o significado de onde é regido pela preposição em, e o significado de aonde, pela perposição para. É esse detalhe que faz com que o uso desses advérbios seja destinado a casos diferentes.

Costuma-se dizer que se usa aonde com verbos de movimento. Mas o que isso quer dizer? Os verbos chamados assim são aqueles que dão ideia de locomoção, de mudança de direção, como ir e chegar. São verbos transitivos indiretos que exigem as preposiçoes para ou a, pois, como ouvimos desde os tempos da escola, "quem vai,vai a algum lugar" e "quem chega, chega a algum lugar". Assim, aonde nada mais é do que a contração da preposição a com o advérbio onde. Por isso, dizemos: "Eu sei aonde você foi ontem à noite"e "Cheguei aonde sempre quis!".

O advérbio onde indica permanência e é usado para indicar o lugar de alguém ou de alguma coisa, de maneira estática. Por isso, dizemos: "Onde você colocou minha camiseta?" e "Não sei dizer onde ela está".

Assim, para sabermos qual dos advérbios usar, basta estar atento à regência do verbo que ele modifica. Se for regido pelas preposições a ou para, usamos aonde, se não, usamos onde. Mas atenção, quando já houver uma perposição na oração, usamos sempre onde, mesmo que o verbo indique movimento. Por isso dizemos: "Você vai aonde é convidada" e "Você vai para onde é convidada".

No português contemporâneo, a palavra onde tem sido usada também como pronome relativo, e podemos ver frases como "Escrevi uma carta onde reivindicava meus direitos". Originalmente, onde tem função adverbial e, portanto, seu uso não cabe na frase citada, já que não está ligado ao verbo "escrever", mas ao substantivo "carta". Nestes casos, devemos substituí-lo por em que, na qual ou no qual. E a frase ficaria "Escrevi uma carta na qual reivindicava meus direitos".

(Fontes de pesquisa: Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7; Dicionário eletrônico Aulete Digital; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna.)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Locuções que confundem

A definição de locução que nos interessa para esta Dica da Semana e que está no dicionário é a seguinte: “Conjunto de palavras que equivalem a um só vocábulo, por terem significado conjunto próprio e função gramatical única”.
Portanto, as locuções são a união de duas ou mais palavras que dão origem a uma expressão com sentido próprio. Além disso, as locuções podem ser de natureza adjetiva, adverbial, conjuntiva, interjeitiva, prepositiva, substantiva e verbal.
Hoje trataremos de algumas locuções que costumam confundir no dia a dia.


Haja vista, hajam vista, haja visto ou haja em vista?

“Haja vista” tem o sentido de "leve-se em conta", "considere-se", e não varia, mesmo quando seguida de outras expressões no plural. Assim sendo, “hajam vista” e “haja visto” são consideradas incorretas. No entanto, a expressão “haja em vista” é também usada com o sentido de “haja vista”. Vejamos alguns exemplos.

Haja vista o temporal, não deveremos ter treino.
A família deve se mudar logo, haja vista que as reformas na casa acabaram.
Ele é inocente, haja em vista a argumentação do advogado.

Ao invés de X Em vez de

A expressão “ao invés de” significa "ao contrário de", "ao revés de". Portanto, não deve ser confundida com a construção “em vez de”, cujo significado é "em lugar de" e não dá a ideia de uma coisa contrária à outra, de oposição, como a primeira. Porém, “em vez de” pode ser usada no lugar de “ao invés de” sem comprometer o sentido.
Exemplos:
Ao invés de entrar, saiu. / Em vez de entrar, saiu.
Os preços aumentaram, ao invés de baixar. / Os preços aumentaram, em vez de baixar.
Era um chefe piedoso ao invés de cruel. / Era um chefe piedoso em vez de cruel.
Em vez de carne, comprou ovos. (Carne não é o contrário de ovo, portanto “em vez de” não cabe aqui.)
Resolveu ligar para Ana, em vez de ligar para Pedro. (Ana não é o contrário de Pedro, por isso o “em vez”.)
Paguei R$ 150 pelo ingresso, em vez de R$ 100. (R$ 150 não são o contrário de R$ 100.)
(Fontes de pesquisa: Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7; Guia de Uso do Português, Maria Helena de Moura Neves, ed. Unesp; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna; revista Língua Portuguesa, ed. Segmento.)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pronomes relativos

Acho interessante escrever sobre algo que sempre utilizamos – pronomes relativos – quando o assunto é fazer referência a um termo anterior (o antecedente de um relativo pode ser um substantivo, um pronome, um adjetivo, um advérbio ou uma oração*). São eles: o qual, os quais, a qual, as quais; cujo, cujos, cuja, cujas; quanto, quantos; quantas; que, quem, onde. Com relação à função sintática dos pronomes relativos, eles podem ser sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo, adjunto nominal, complemento nominal, adjunto adverbial e agente da passiva, tendo em vista que o relativo cujo sempre funciona como adjunto adnominal e o relativo onde, como adjunto adverbial.
Como percebo que há certa confusão no uso desses pronomes, vou focar este post em seus valores e empregos, com mais atenção ao que.

Que

É usado em orações adjetivas restritivas e explicativas. (As restritivas restringem, limitam, precisam a significação do substantivo ou pronome antecedente e se ligam a ele sem pausa, ou seja, sem vírgula. As explicativas acrescentam uma qualidade acessória ao antecedente, separando-se dele por vírgula.)


Não diz nada que se aproveite, esse rapaz! (restritiva)

O ministro, que acabava de jantar, fumava calado e pacífico (explicativa)


Concordância:


- O antecedente imediato do que determina a concordância.

- Havendo dois ou mais antecedentes, o verbo vai para o plural da pessoa que tem precedência sobre as demais.

- O verbo fica na terceira pessoa se o sujeito é um infinitivo e não o que (Ex.: “As pessoas que é difícil encontrar”), porém os pronomes nós e vós podem prevalecer sobre o antecedente imediato do que (“Não somos nós os que vamos discordar”).


Qual, o qual

O pronome que pode ser substituído por o qual (a qual, os quais, as quais), com antecedente substantivo, em orações adjetivas explicativas:

Clareava: uma luz baça, em neblina, através da qual apareciam serranias distantes e o mar liso, esbranquiçado, luzindo a trechos.


Quem


Emprega-se somente com referência a pessoa ou a alguma coisa personificada.


A mim quem convertou foi o sofrimento.


Cujo



Cujo é relativo e possessivo. Emprega-se apenas como pronome adjetivo e concorda com a coisa possuída em gênero e número.

Herculano é para mim, nas letras, depois de Camões, a figura em cujo espírito e em cuja obra sinto com plenitude o gênio heroico de Portugal.


Quanto


Como simples relativo, quanto pode vir antecedido de tudo, todos (todas), podendo estes ser omitidos.


Em tudo quanto olhei fiquei em parte.


Entre quantos te rodeiam,
Tu não enxergas teus pais.


Onde


Desempenha o papel de adjunto adverbial (= o lugar em que, no qual), e por isso é considerado por alguns gramáticos advérbio relativo.


Sob o mar sem borrasca, onde enfim se descansa.


* Os pronomes relativos quem e onde podem ser empregados sem antecedentes, passando a ser pronomes relativos indefinidos.
** Todos os exemplos foram retirados de Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra.

(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna.)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

“Obrigado(a) eu” ou “obrigado(a) você”?

Quem nunca ouviu (ou falou) uma das formas acima e se perguntou “Afinal, qual está correta?” que atire a primeira pedra.
Mas antes de esclarecer a questão vou contar uma breve história.
Há algum tempo, Caetano Veloso e Jorge Mautner, na ocasião do lançamento de um disco em parceria, foram entrevistados no programa do Jô Soares. No fim da entrevista, quando o Jô agradeceu a presença deles no programa, Caetano respondeu tranquilamente: “Obrigados nós”.
Até explicação na sua coluna da Folha de S.Paulo Pasquale deu, de tanto e-mail de pessoas questionando a resposta.
Tal estranhamento vem do fato de a palavra obrigado ser um adjetivo e, por isso, concordar exatamente com a pessoa (ou pessoas) que agradece(m) ou que responde(m) ao agradecimento: obrigado (homem), obrigada (mulher), obrigados (homens), obrigadas (mulheres).
Quando alguém diz “obrigado(a)”, está querendo dizer que está agradecido(a) por algo feito, que se sente na obrigação de retribuir o favor feito.
Mas como responder a esse agradecimento?
Algumas pessoas usam, de forma inadequada, a maneira “obrigado(a) você”. Se formos interpretar essa resposta na ponta da caneta, vemos que, quem recebeu o agradecimento, simplesmente “obriga” o favor à pessoa que agradeceu. É como se ela dissesse para quem agradeceu “Você tem uma obrigação para comigo”, mas, como vimos, o “obrigado(a)” é exatamente isso: uma obrigação para com a pessoa que se agradece. Confuso? Acho que explicando a maneira correta minimizo a confusão.
Quando alguém diz “obrigado(a)”, a forma correta de responder, entre outras, é “obrigado(a) eu”, ou seja, eu que fico obrigado(a). Voltando à resposta de Caetano, vemos que ele agradece por ele e Mautner, por isso o “obrigados nós” (plural de “eu”). Se achou estranho, é possível optar pela forma “obrigado(a) a você”, ou seja, eu é que fico obrigado a você.
Se ainda assim der um branco na hora de responder, opte simplesmente pelas formas: “não há de quê”, “de nada”, “por nada” ou “eu que agradeço”; o importante é não deixar sem resposta um agradecimento.

Em tempo: quando substantivamos o obrigado, ele não varia – “meu muito obrigado”, para homem ou mulher, “nosso muito obrigado”, para homens ou mulheres.

(Fontes de pesquisa: sites Sua Língua e Gramática On-line, Folha de S.Paulo.)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Acerca de, a cerca de, cerca de, há cerca de

Muito usadas no dia a dia, em diversos tipos de textos – escritos e falados –, essas locuções homófonas (ou quase) têm sentidos diferentes e às vezes confundem na hora de escrever.


Acerca de

Esta locução é formada pelo advérbio acerca mais a preposição de e tem o sentido de a respeito de, quanto a ou sobre.
Exemplos: A palestra explicou tudo acerca do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Ele ainda não divulgou nada acerca do novo trabalho.
Divulgaram ontem as informações acerca das provas.


A cerca de e cerca de

Estas duas locuções, formadas pelo advérbio cerca e pela preposição de, têm o mesmo sentido: aproximadamente, quase, perto de ou nas proximidades de. A diferença entre as duas formas é que no primeiro caso é usada a preposição a antes do advérbio cerca, que algumas vezes é necessária, como veremos nos exemplos, sobretudo em função das regências verbal e nominal.
Exemplos: Os fãs fervorosos ficaram a cerca de 2 metros do palco.
Emagreceu cerca de 3 quilos.
Ela chegou cerca de 5 minutos depois do início do espetáculo.
Estava a cerca de 2 quilômetros do escritório.
As crianças estavam ansiosas cerca da mesa de doces.


Há cerca de

Neste caso temos o verbo haver mais o advérbio cerca e a preposição de e o significado de faz aproximadamente, faz mais ou menos.
Exemplos: Chegou há cerca de meia hora.
Deixei a cidade há cerca de dez anos.
O filme está em cartaz há cerca de dois meses.

***

Espero que com essas dicas a confusão não surja mais na hora da escrita.


(Fontes de pesquisa: Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O verbo haver como impessoal no sentido de existir

Geralmente em uma oração há dois termos principais, o sujeito e o predicado, sendo que este carrega o verbo que expressa a ação e aquele, a pessoa que comete essa ação. Mas há ocorrências de orações sem sujeito, que não apresentam nem mesmo sujeito oculto ou indeterminado. Nesses casos não é primordial atribuir a ação contida no predicado a alguém. O mais importante é o acontecimento em si.

Os verbos que regem essas orações são chamados verbos impessoais. O verbo haver, no sentido de existir (Há traças nas suas roupas) e nas indicações de tempo (Há dois meses não caminha sob o sol), está entre eles. Como os verbos impessoais não têm sujeito, apresentam variação apenas de tempo, e não de pessoa, e assumem sempre a forma de terceira pessoa do singular. Por isso, é um equívoco concordar verbos impessoais com os termos que os seguem. Vejamos:

Houve animais nesta casa e não Houveram animais nesta casa.

No exemplo dado, pode-se perceber que “animais nesta casa” é o complemento do verbo haver, e não o seu sujeito, já que não praticou ação alguma. Portanto, não há motivos para flexionar o verbo. É sempre bom lembrar que verbos impessoais não têm sujeito e por isso não apresentam flexão de pessoa (o que, como as palavras já dizem, os tornaria verbos pessoais).

Seguindo essa mesma lógica, verbos que unidos ao verbo haver tenham função de auxiliar também ficam no singular. Assim: Pode haver lutas e não Podem haver lutas.

Mas atenção, embora o verbo haver como impessoal possa ter o sentido de existir, se substituirmos um pelo outro na oração, deverá ser empregada a flexão de pessoa para o verbo existir, já que este não assume função de verbo impessoal. Assim: Existem traças na sua roupa. Nesse caso, “traças na sua roupa” assume a função de sujeito do verbo existir e há concordância entre eles.

Há ainda uma particularidade na relação entre os verbos haver e ter com o sentido de existir. Muitas vezes, vemos o uso do verbo ter em lugar de haver, como Tem duas meias no seu pé. De acordo com a gramática tradicional, esta forma é incorreta, pois o verbo ter carrega o significado de posse e não deveria assumir a função de existir, muito menos tornar-se impessoal. Mas, como essa substituição já está se tornando consagrada pelo uso, muitos escritores a empregam. Por isso, é importante lembrar que, no caso de admitir o uso de ter nesses termos, é preciso manter a mesma regra usada com o verbo haver. Assim: Tem duas meias no seu pé e não Têm duas meias no seu pé.

O verbo haver não é único a assumir a característica impessoal, tampouco essa é sua única forma, mas isto pode ser assunto para outra dica... Por enquanto, espero ter esclarecido a função de haver como existir.

(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna; Lições de Português pela Análise Sintática, Evanildo Bechara, ed. Lucerna; Dicionário Prático de Regência Verbal, Celso Luft, ed. Ática; Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7.)

"Tratar-se de"

Tratam-se de problemas pessoais ou Trata-se de problemas pessoais?

Em orações em que o verbo "tratar" signifique: 1. estar em causa; ser o que importa ou o que se debate; versar (a questão de que se fala) sobre; 2. estar a falar de; ser; 3. ter importância para alguém ou algo; adiantar, interessar*, o sujeito é indeterminado. Logo, se não há sujeito para que haja concordância, o verbo fica na terceira pessoa do singular:

Trata-se de problemas pessoais.




* De acordo com o Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0.7.