quarta-feira, 1 de julho de 2009

Acordo ortográfico

O acordo ortográfico
O acordo ortográfico da língua portuguesa foi estabelecido entre os países em que esse idioma é considerado oficial, ou seja, Portugal e as nações que foram suas colônias – Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste e Brasil. A intenção é uniformizar a ortografia entre esses países, visando principalmente à elaboração de documentos diplomáticos, até agora redigidos apenas em inglês e espanhol, que passariam a apresentar também uma versão em português. Há ainda outros motivos, como promover a maior facilidade no intercâmbio cultural realizado por meio de livros, didáticos ou não. Mesmo com esses argumentos, o acordo foi criticado no Brasil – apesar de as mudanças por aqui serem poucas – e ainda não foi aceito em Portugal, onde há maior número de alterações. De qualquer forma, a abrangência desse acordo ortográfico da língua portuguesa não ultrapassa a língua escrita, ou seja, não há alteração na fala, na pronúncia das palavras.
Vejamos então como ficou nossa nova ortografia, em vigor desde janeiro de 2009.

ALFABETO
O alfabeto, antes com 23 letras, passa a ter 26. Foram incluídas: K, W e Y.

ACENTUAÇÃO
Trema
Não se usa mais o trema.
Exemplos: frequência, equino, linguiça, tranquilo, cinquenta, frequente, linguística, arguir, consequência.
Atenção: nomes próprios estrangeiros e seus derivados permanecem com o trema.
Exemplos: Müller, mülleriano; Hübner, hübneriano.

Ditongos abertos
Os ditongos abertos –ei e –oi em palavras paroxítonas não levam mais o acento agudo.
Exemplos: plateia, apoia (verbo apoiar), jiboia, assembleia, heroico, espermatozoide, androide, colmeia, estreia.
Atenção:
– A palavra destróier permanece acentuada, respeitando a regra na qual palavras paroxítonas terminadas em er levam acento.
– O acento permanece nas palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis.
Exemplos: anéis, herói, papéis, corrói. Por isso, heroico se escreve sem acento, mas herói, com.

Hiatos
O acento circunflexo foi abolido nos hiatos -oo e -ee.
Exemplos: abençoo; voo; perdoo; enjoo; magoo; zoo; creem e descreem; deem; leem e releem; veem e preveem.
Atenção: o acento circunflexo que marca o plural nos verbos ter, vir e derivados permanece.
– tem / têm
– vem / vêm
– retém / retêm
– intervém / intervêm

Acento diferencial
Não há mais acento diferencial nos seguintes casos:
para, verbo, para diferenciar da preposição para;
Exemplo: João não para de trabalhar para juntar dinheiro.
pela/pelas (é), substantivo e flexão de pelar, para diferenciar de pela/pelas, combinação de per e la/las;
pelo(é), flexão de pelar, para diferenciar de pelo/pelos, combinação de per e lo/los;
pelo/pelos (ê), substantivo, para diferenciar da combinação per e lo/los;
Exemplo: O pelo do cachorro caía pelo chão.
polo/polos (ó), substantivo, para diferenciar de polo/polos, combinação antiga de por e lo/los.
pera(ê), substantivo, para diferenciar de pera(é), preposição arcaica.
Atenção: alguns acentos diferenciais permanecem:
pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), usado para diferenciar de pode (3ª pessoa do singular do presente do indicativo);
Exemplos: Há dois anos ele pôde satisfazer suas vontades, mas agora não pode pagar seus estudos.
pôr, verbo, usado para diferenciar de por, preposição;
Exemplos: Ela gosta de pôr o véu para rezar por você.
É facultativo o emprego do acento em:
dêmos (1ª pessoa do plural do presente do subjuntivo), para diferenciar de demos (1ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo);
fôrma, substantivo, para diferenciar de forma, substantivo ou 3ª pessoa do singular do presente do indicativo ou 2ª pessoa do singular do imperativo afirmativo;

-U tônico
Não há mais acento agudo no –u tônico das formas verbais rizotônicas quando precedido de g ou q e seguido de e ou i (grupos gue / gui e que / qui).
Exemplos: averigue, argui, redarguem.

-I e -u tônicos
Não há mais acento agudo no –i e –u tônicos nas palavras paroxítonas quando precedidos por ditongo.
Exemplos: feiura, baiuca, cauila, bocaiuva.
Atenção: quando pertencerem a palavras oxítonas, forem precedidos de ditongo e estiverem em posição final, seguidos ou não de s, o -I e -U tônicos ainda levam acento.
Exemplos: Piauí, tuiuiú, tuiuiús.

EMPREGO DO HÍFEN
Não há hífen:
 Nos casos de prefixos terminados em vogal seguidos de consoante.
Exemplos: anteprojeto, antipedagógico, autoproteção, coprodução, geopolítica, extracurricular, microcomputador, pseudoprofessor, semideus, ultramoderno, radiodetector.
Atenção:
– Nos casos de prefixos terminados em vogal seguidos de r ou s, dobra-se o r ou o s.
Exemplos: antirreligioso, antissocial, contrarregra, cosseno, minissaia, ultrassecreto, microssistema, radiorreportagem.
– O prefixo vice- é uma exceção, com ele há sempre hífen.

 Quando o prefixo termina em vogal diferente da palavra que o segue.
Exemplos: antiaéreo, plurianual, extraescolar, agroindustrial, autoestrada, anteontem, autoescola, socioeconômico, autoaprendizagem, semianalfabeto, semiaberto, semiopaco, aeroespacial, radioecologia.

 Nas palavras que perderam a noção de composição para o falante de hoje.
Exemplos: mandachuva, paraquedas, pontapé, girassol.

 Com os prefixos pro-, pre- e re-, que continuam como antes do acordo.
Exemplos: proeminente, preestabelecer, preexistente, reanexar, reeditar, reescrever, reidratar, reumanizar.

 Com o prefixo co-, que se aglutina com o segundo elemento mesmo que este se inicie pela vogal o ou pela consoante h, que, neste caso, é suprimida na aglutinação.
Exemplos: coautor, coobrigação, corresponsável, coabitação, coerdar, coerdeiro, coordenar, coocupante.

 Na palavra benfeito, que perdeu o hífen e teve a letra m substiuída por n, por causa da aglutinação.
Atenção: A palavra bem-vindo continua com hífen!

 Nas locuções prepositivas.
Exemplos: dia a dia, pé de cana, mão de obra, passo a passo.
Atenção:
- As locuções prepositivas que designam elementos da natureza, ou nomes botânicos, permanecem com hífen. Exemplos: cana-de-açúcar, pé-de-boi (árvore), siri-do-mangue.
- Cor-de-rosa continua com hífen.

Há hífen:
 Nos casos em que o prefixo sub- e os prefixos terminados em rhiper-, inter- e super- – são seguidos de palavras iniciadas por r.
Exemplos: sub-rogado, hiper-rugoso, inter-relatividade, super-realismo.

 Quando os prefixos terminados em vogal, como ante-, anti-, auto-, contra-, arqui-, extra-, intra-, neo-, ultra-, proto-, pseudo-, semi-, supra- etc., forem seguidos de vogal igual no segundo elemento.
Exemplos: micro-ondas, anti-inflamatório, auto-observação, semi-interno, contra-atacar, arqui-inimigo, ante-estreia, extra-atmosférico, intra-atômico, neo-ortodoxo, ultra-americanismo, supra-axiliar, pseudo-osteose.
Atenção: nas palavras com prefixos co- e re- seguidas de vogal igual no segundo elemento não há hífen.

 Com prefixos, quando o segundo elemento for iniciado por h.
Exemplos: anti-higiênico, pré-histórico, ultra-humano, macro-história, mini-hotel, sobre-humano, super-homem, proto-hominídeo, pseudo-hérnia.
Atenção:
- Na palavra subumano não há hífen, a palavra humano perde o h e se une ao prefixo sub-.
- Nas palavras com prefixos co- e re- seguidas de h não há hífen e essa consoante é suprimida na aglutinação.

 Nos prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começar por vogal, h, m ou n.
Exemplos: circum-navegador, circum-ambiente, pan-americano, pan-mítico, pan-hispânico.

 Com os prefixos ex-, sem-, além-, aquém-, recém-, vice-, pré-, pró- e pós- seguidos de qualquer palavra.
Exemplos: ex-librismo, sem-teto, além-mundo, aquém-oceano, recém-tecido, vice-reitor, pós-adolescência, pós-glacial, pré-agonia, pró-socialista, pró-análise.

 Nos adjetivos pátrios compostos.
Exemplos: afro-cubano, franco-ítalo-nipônico, brasilo-boliviano, sírio-libanês.

 Antecedendo os sufixos de origem tupi-guarani.
Exemplos: amoré-guaçu, capim-açu, anajá-mirim.

 O hífen é usado no lugar de traço na ligação de duas ou mais palavras que se combinam por uma eventualidade e formam encadeamentos vocabulares.
Exemplos: Liberdade-Igualdade-Fraternidade, ponte Rio-Niterói, percurso Rio-São Paulo, relação Angola-Brasil.

 Na translineação de uma palavra composta ou na combinação de palavras em que há um hífen, repete-se o hífen na linha seguinte.
Exemplos: ......elegeu-
-se
............pan-
-europeu
Atenção: a Trip Editora, assim como outras editoras, não segue essa regra.

EMPREGO DO E / I
 O e é substituído pelo i, antes da sílaba tônica, nos adjetivos e substantivos derivados em que entram os sufixos mistos de formação.
Exemplos: acriano (do Acre), açoriano (dos Açores), rosiano (relativo a Guimarães Rosa)
camoniano (relativo a Camões).


Observação: as regras da nova ortografia da língua portuguesa em vigor no Brasil foram baseadas no acordo ortográfico, mas também passaram pela avaliação da Academia Brasileira de Letras. Por isso, além do que listamos aqui, há algumas especificidades que não caberiam neste texto. Para uma consulta mais detalhada, sugerimos o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, o Volp, elaborado pela própria academia.

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