segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Grafias mudam com o acordo

Além das novas regras já conhecidas por todos, o acordo trouxe novas grafias a algumas palavras, anote-as:

antes infanto-juvenil => agora infantojuvenil
antes pronta entrega => agora pronta-entrega
antes socialdemocracia => agora social-democracia
antes ponto final => agora ponto-final

Grafia de horas

Esta é uma questão que ainda confunde muita gente. Afinal, como devemos escrever as horas?
Cada país tem sua maneira de registrá-las. No Brasil convencionou-se adotar o horário de 24 horas, ou seja, a madrugada vai da 0 às 6 horas; a manhã, das 6 ao meio-dia; a tarde, do meio-dia às 18; e a noite, das 18 às 24 horas. Alguns países utilizam o horário de 12 em 12 horas, ou seja, a madrugada vai da 0 às 6 horas; a manhã, das 6 às 12; a tarde, das 12 às 6; e a noite, das 6 às 12 horas.
Por convenção também, não são utilizados dois-pontos, e sim a abreviação da palavra hora, que é h, sem ponto final (nunca hs nem hrs). A abreviação de minutos é sempre min, sem ponto final, e a de segundos é s, também sem ponto, mas esta é usada apenas em marcações específicas, como o tempo de uma corrida, entre outras (11h23min9s).
Portanto abreviam-se as horas desta maneira: 12h*, 12h30min ou 14h22min, podendo ser dispensado o min final, ficando apenas 12h30 etc. As horas redondas também podem ser representadas por extenso ou então com espaço (sempre sem zero inicial): 12 horas ou 12 h; 6 horas ou 6 h.
A grafia com dois-pontos (08:00, 15:10, 20:08 etc.) é usada em áreas específicas, como em passagens, horários anunciados pela televisão, etc., portanto evite-a.

(*Na Trip usamos a forma por extenso em textos e a forma abreviada – sem espaço – em serviços.)

Quanto à crase, veja como usar:

=> de 13h a 14h (não colocar o acento)

=> das 13h às 14h (colocar o acento)

=> entre as 20 e as 24 horas (não colocar o acento)

=> desde as 2 horas (não colocar o acento)

=> até as/às 18 horas (facultativo)

Aproveitando a deixa, veja também como são grafadas as datas:

com traço: 28-12-1945
com barra: 3/10/2002*
com ponto: 21.5.2004

(*Esta é a forma que usamos na Trip.)

Observações:
=> nunca use ponto nem espaço entre o milhar e a centena nos números cardinais: 1986 (e não 1.986 nem 1 986); 2010 (e não 2.010 nem 2 010);

=> o ano pode ser registrado com os dois últimos dígitos: 12/11/02;

=> escreva o primeiro dia do mês desta forma: 1º (e não 1). Exemplo: 1º/5/02 ou 1º/05/02.

=> o emprego de zero antes do dia ou do mês formado de um só algarismo não é de rigor: 02/02/99 ou 2/2/99 (porém na Trip não utilizamos o zero).


Espero que com essas dicas ninguém mais perca a hora no momento da escrita.

(Fontes de pesquisa: sites Gramática on-line e Manual de Redação da PUC-RS on-line; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Todo(a) ou todo(a) o(a): quando o artigo faz toda a diferença

Estas vogais, a e o, geralmente fazem muita diferença quando assumem função sintática de artigo definido (feminino ou masculino, respectivamente). Nesta Dica, falaremos sobre o pronome indefinido todo(a), já que a presença do artigo, posposto a ele, pode mudar todo o significado de uma frase.

Se lermos em voz alta as frases: “Ele encapa com plástico todo livro que vai para a estante” e “Ela derrubou café e manchou todo o livro” perceberemos que, na fala, a presença do artigo pode passar despercebida. Isso ocorre porque a concordância entre artigo e pronome forma crase entre a última letra de todo, que o identifica como palavra masculina, e o artigo o, que com ele concorda. Por esse motivo, dizem os gramáticos, as pessoas costumam ficar indecisas entre o uso de todo(a) ou todo(a) o(a).

Mas, como na língua escrita não temos a entonação da fala, precisamos usar de outros recursos para tornar claro nosso discurso e, neste caso, o artigo pode ajudar. Vejamos mais um exemplo:
(a) Ela trocou as personagens e mudou toda a história.
(b) Toda história que ele conta é mentirosa.

Na frase (a) toda a história tem o sentido de “história inteira”, enquanto na frase (b) toda história tem sentido de “qualquer história”. É essa a diferença estabelecida com a presença do artigo definido, ou seja, todo(a) – sozinho – tem sentido de “cada/qualquer”e todo(a) o(a),de “inteiro/total”.

Mas atenção, quando no plural todos e todas devem vir acompanhados de artigo também no plural (Ela fez todas as obrigações do dia), a não ser que sejam seguidos de palavras que o excluam, como pronomes demonstrativos (Não preciso de todas essas regalias) e numerais não acompanhados de substantivo (Ele aceitou todos os quatro pedaços que lhe ofereceram e já comeu todos quatro).

A diferenciação entre todo(a) e todo(a) o(a) é corrente no português moderno e do Brasil, por isso muitos gramáticos aceitam a utilização do pronome todo(a), no singular, com ou sem artigo definido, abrangendo todos os sentidos citados acima. Mas, se podemos facilitar a compreensão do leitor de nosso discurso, por que não?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Infinitivo: flexionado ou não flexionado?

O infinitivo é uma forma nominal do verbo, ou seja, além do seu valor verbal pode desempenhar a função de nome. Mais precisamente, o infinitivo pode ser também substantivo. Muitos devem ter ouvido na escola que o infinitivo é o nome do verbo, lembram?
Como verbo, na língua portuguesa o infinitivo pode ser impessoal, que não tem sujeito, porque não se refere a uma pessoa gramatical, ou pessoal, que tem sujeito e pode ser flexionado ou não. A partir daí costuma haver polêmica. Sempre surgem dúvidas quanto à flexão do infinitivo e a questão é controversa mesmo entre os gramáticos. A dica desta semana tenta esclarecer.

O infinitivo é flexionado...

1- Quando o seu sujeito e o do verbo principal são diferentes.
Exemplos: O chefe julgava estarem seus empregados superados.
Convém saírem vocês primeiro.
Peço-lhes o favor de não chegarem atrasados.

Caso o sujeito seja o mesmo, o infinitivo não será flexionado. Reparem nos exemplos que o sujeito das duas ações é o mesmo.
Exemplos: Quiseram fazer as pazes.
Declararam estar prontos.
Temos o prazer de lhe comunicar a vitória.

2- Quando o sujeito é indeterminado.
Exemplos: Ouvi dizerem que você canta muito bem.
Eu não deixei levarem o cachorro.
Ele viu executarem os criminosos.

3- Quando o infinitivo é o sujeito.
Exemplos: O morrerem pela pátria é sina de alguns soldados.
O quereres tudo me surpreende.

Observação: se houver dúvidas ao usar as “regras” acima, considere que o infinitivo é flexionado quando pode ser substituído por um tempo finito, em geral do indicativo ou do subjuntivo.
Exemplos: É preciso saírem logo. (saírem = que saiam)
Convém chegarmos ao fundo da questão. (chegarmos = que cheguemos)
O coronel intimou-os a se renderem. (renderem = a que se rendessem)

***


O infinitivo não é flexionado...


1- Quando é impessoal (ou seja, não se refere a nenhum sujeito) ou é usado de forma impessoal.
Exemplos: É possível haver dúvidas.
Jurar falso é crime.
É proibido proibir.


2- Quando tem o valor de imperativo.
Exemplos: Meia-volta, volver!
Honrar pai e mãe.


3- Em locução verbal.
Exemplos: As crianças começaram a chorar.
Hoje vamos passar o dia na praia.
As peças estavam estragadas, devendo ser substituídas.
Costumavam os filhos reunir-se.


4- Quando com preposição que funciona como complemento de substantivo, adjetivo ou do próprio verbo principal.
Exemplos: O pai convenceu os filhos a voltar cedo.
Eram soluções difíceis de aplicar.
Receitas boas de fazer.
Continuamos dispostos a comprar a casa.
As emissoras conquistaram o direito de transmitir todos os jogos de vôlei.


5- Quando com preposição que aparece depois de um verbo na voz passiva.
Exemplos: Os jornalistas foram forçados a sair da sala.
As pessoas eram obrigadas a esperar em fila.

6- Quando com preposição que tem o valor de gerúndio.
Exemplos: As senhoras estavam a orar. (a orar = orando)
Os trabalhadores estavam a comer. (a comer = comendo)


Observação: nos demais casos de preposição ou locução prepositiva com infinitivo a flexão é opcional.

***


Pois é, realmente não são poucas as considerações sobre a flexão ou não do infinitivo. É sempre válido tentar primar pela clareza e usar do bom senso. Para concluir, deixo a observação do gramático Napoleão Mendes de Almeida: “Devemos limitar a flexão do infinitivo aos casos de real necessidade de identificação do seu sujeito. Não verificada essa necessidade, deixemos intacto o infinitivo”.

(Fontes de pesquisa e de exemplos: Moderna Gramática Portuguesa, Evanildo Bechara, ed. Lucerna; Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Nova Fronteira; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Colocação pronominal

Nos meus meses de vestibulando, este foi o assunto que mais me assombrou. Onde colocar o pronome átono? Mas e se tem uma negação? Posso começar uma oração com o pronome átono?
Abaixo, uma explicação para aqueles que ainda ficam com um ponto de interrogação na mente quando o assunto é colocação pronominal.

***
Próclise: pronome antes do verbo
Mesóclise: pronome no meio do verbo
Ênclise: pronome depois do verbo

***

Regras gerais:
Com um só verbo

1. Verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito, usa-se apenas próclise ou mesóclise:

Eu me sentarei.
Eu me sentaria.
Eu sentar-me-ia.

2. Usa-se a próclise também:

- quando uma palavra de sentido negativo (não, nunca, jamais, nada, nenhum, nem, ninguém) precede o verbo, não havendo pausa :

Nunca o vi por estes lados.


- quando o verbo é precedido de advérbio (aqui, ali, cá, lá, muito, bem, mal, sempre, somente, depois, após, já, ainda, antes, agora, talvez, acaso, porventura) ou expressões adverbiais e não há pausa que os separe:

Sempre lhe digo, e nunca me ouve.


- quando o verbo é precedido de que (menos quando substantivo):

O que você nos disse faz sentido.


- quando o verbo é precedido de pronome relativo (o qual, quem, cujo, onde):

Quem me ligou?


- quando o sujeito da oração, anteposto ao verbo, contém o numeral ambos ou algum pronome indefinido (algum, alguém, diversos, muito, pouco, vários, tudo, outrem, algo):

Alguém me chama.
Ambos se dizem ganhadores.


- quando o verbo é precedido de pronome demonstrativo (este(a), esse(a), isto, isso, aquilo):

Aquilo lhe pertence.


- nas orações que exprimem exclamação ou desejo:

Raios os partam!
Que Deus o abençõe.


- quando o verbo é precedido de conjunção subordinativa (porque, embora, conforme, se, como, quando, conquanto, caso, quanto, segundo, consoante, enquanto, quanto mais... mais):

Quando me disseram, já era tarde.


- quando o verbo é precedido das conjunções coordenativas não só... mas também, quer... quer, já... já, ou... ou, ora... ora.

Não só me disse isso, mas também me presenteou.


- com o gerúndio regido da preposição em ou de advérbio:

Em se tratando de escola, ela prefere a matemática.
Bem o dizendo, mal o negando.


- com formas verbais proparoxítonas:

Nós o teríamos deixado.


- nas orações iniciadas por pronomes interrogativos:

Quem te deu esse doce?


- nas orações iniciadas por objeto direto ou predicativo:

Isso te digo eu.


3. Não se dá ênclise nem próclise com os particípios.

4. Com infinitivo solto (que não faça parte de locução verbal), tanto faz usar ênclise ou próclise. (Porém, não combine por ou nem com os pronomes o, a, os, as.)


Com uma locução verbal

Quando na oração há verbo auxiliar + infinitivo, é necessário levar em consideração a atração, podendo o pronome ficar depois do auxiliar ou do infinitivo (quero-lhe dizer a verdade / quero dizer-lhe a verdade*), caso não haja atração, ou antes do auxiliar e depois do infinitivo, caso contrário (não quero lhe dizer a verdade / não quero dizer-lhe a verdade).


Quando na oração há verbo auxiliar + preposição e infinitivo, se não houver atração o pronome fica depois do infinitivo (deixou de a procurar / deixou de procurá-la), caso contrário, o pronome fica antes do auxiliar ou depois do infinitivo (não a deixou de procurar / não deixou de procurá-la).


Quando na oração há verbo auxiliar + gerúndio, se não houver atração, o pronome fica depois do auxiliar ou do gerúndio (vinha-lhe dizendo a verdade / vinha dizendo-lhe a verdade), caso contrário, o pronome fica antes do auxiliar (não lhe vinha dizendo a verdade).

Quando na oração há verbo auxiliar + particípio, se não houver atração, o pronome fica antes ou depois do auxiliar (os chefes haviam-no recomendado / os chefes o haviam recomendado), caso contrário, fica apenas antes do auxiliar (quis saber por que o haviam recomendado).

Obs.: Quando o verbo principal está no particípio, o pronome átono não pode vir depois dele.


Casos opcionais

Com os pronomes pessoais e com o infinitivo que não faça parte da locução verbal.


Mesóclise

Usa-se ao iniciar frases ou quando não existir nada que atraia o verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito.

Obs.: convém evitar essas formas, já que são mais ligadas à linguagem erudita.


(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna.)


* Alguns exemplos foram retirados do Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Porcentagem (concordância)

Sempre que ouvia na televisão repórteres concordando o verbo da porcentagem com o número que ela simbolizava e não com o termo que especificava o número (um exemplo aleatório: 30% da população sofrem com as enchentes) achava estranho e questionava se era correto esse modo de falar (ou escrever). Para mim, a concordância do verbo se fazia no singular, pois concordava com o termo referido (30% da população sofre com as enchentes).
Em outro momento, numa mesa de bar, conversando com um amigo que é jornalista, escutava ele afirmar categoricamente que aquele era o único modo de concordar a porcentagem, não havia outra forma. Como eu conhecia “a outra forma”, mas não queria começar uma discussão, resolvi me calar, mas fui atrás da “verdade” para saber qual dos dois estava certo, ou melhor, para provar que eu tinha razão.
Qual não foi minha surpresa quando, lendo vários livros de gramática, percebi uma das coisas mais comuns na língua portuguesa: os dois estavam corretos. Há as duas formas de concordar o verbo.

Então, vamos aos fatos:

=> quando o verbo vem após o número expresso pela porcentagem, é possível concordar o verbo com o número ou com o que é expresso por ele:

80% dos alunos foram aprovados. ou
80% das alunas foram aprovadas*.

50% da colheita foram perdidos. ou
50% da colheita foi perdida*.

* esta é a forma que utilizamos na Trip.

=> porém, todos os gramáticos são unânimes em concordar o verbo no plural quando:
– ele vem antes da porcentagem:

Perderam-se 20% da colheita.

– o termo a que refere a porcentagem vier antes dela:

Dos trabalhadores, 38% foram demitidos.
Da safra de café, 40% estavam estragados.

– a porcentagem for particularizada:

Esses 15% da comissão serão entregues aos funcionários.
Os restantes 40% serão divididos em três vezes.

=> com 1% o verbo fica expresso no singular:

Apenas 1% dos eleitores não compareceu às urnas.
1% dos entrevistados a revista.
Dos livros emprestados, somente 1% foi devolvido.
Está perdido 1% da safra.

Depois de aprender sobre a porcentagem e descobrir essa particularidade da língua portuguesa de aceitar várias regras em uma mesma situação, parei de incluir o assunto em uma discussão, pois há uma grande chance de todos estarem corretos... ou não.

(Fontes de pesquisa: Gramática Escolar da Língua Portuguesa, Evanildo Bechara, ed. Lucerna; Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, Domingos P. Cegalla, ed. Nova Fronteira; Manual da Redação da Folha de S.Paulo, Publifolha; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna; Gramática Metódica da Língua Portuguesa, Napoleão Mendes de Almeida, ed. Saraiva; Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, José Carlos de Azeredo, Publifolha)