segunda-feira, 28 de setembro de 2009

“Obrigado(a) eu” ou “obrigado(a) você”?

Quem nunca ouviu (ou falou) uma das formas acima e se perguntou “Afinal, qual está correta?” que atire a primeira pedra.
Mas antes de esclarecer a questão vou contar uma breve história.
Há algum tempo, Caetano Veloso e Jorge Mautner, na ocasião do lançamento de um disco em parceria, foram entrevistados no programa do Jô Soares. No fim da entrevista, quando o Jô agradeceu a presença deles no programa, Caetano respondeu tranquilamente: “Obrigados nós”.
Até explicação na sua coluna da Folha de S.Paulo Pasquale deu, de tanto e-mail de pessoas questionando a resposta.
Tal estranhamento vem do fato de a palavra obrigado ser um adjetivo e, por isso, concordar exatamente com a pessoa (ou pessoas) que agradece(m) ou que responde(m) ao agradecimento: obrigado (homem), obrigada (mulher), obrigados (homens), obrigadas (mulheres).
Quando alguém diz “obrigado(a)”, está querendo dizer que está agradecido(a) por algo feito, que se sente na obrigação de retribuir o favor feito.
Mas como responder a esse agradecimento?
Algumas pessoas usam, de forma inadequada, a maneira “obrigado(a) você”. Se formos interpretar essa resposta na ponta da caneta, vemos que, quem recebeu o agradecimento, simplesmente “obriga” o favor à pessoa que agradeceu. É como se ela dissesse para quem agradeceu “Você tem uma obrigação para comigo”, mas, como vimos, o “obrigado(a)” é exatamente isso: uma obrigação para com a pessoa que se agradece. Confuso? Acho que explicando a maneira correta minimizo a confusão.
Quando alguém diz “obrigado(a)”, a forma correta de responder, entre outras, é “obrigado(a) eu”, ou seja, eu que fico obrigado(a). Voltando à resposta de Caetano, vemos que ele agradece por ele e Mautner, por isso o “obrigados nós” (plural de “eu”). Se achou estranho, é possível optar pela forma “obrigado(a) a você”, ou seja, eu é que fico obrigado a você.
Se ainda assim der um branco na hora de responder, opte simplesmente pelas formas: “não há de quê”, “de nada”, “por nada” ou “eu que agradeço”; o importante é não deixar sem resposta um agradecimento.

Em tempo: quando substantivamos o obrigado, ele não varia – “meu muito obrigado”, para homem ou mulher, “nosso muito obrigado”, para homens ou mulheres.

(Fontes de pesquisa: sites Sua Língua e Gramática On-line, Folha de S.Paulo.)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Acerca de, a cerca de, cerca de, há cerca de

Muito usadas no dia a dia, em diversos tipos de textos – escritos e falados –, essas locuções homófonas (ou quase) têm sentidos diferentes e às vezes confundem na hora de escrever.


Acerca de

Esta locução é formada pelo advérbio acerca mais a preposição de e tem o sentido de a respeito de, quanto a ou sobre.
Exemplos: A palestra explicou tudo acerca do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Ele ainda não divulgou nada acerca do novo trabalho.
Divulgaram ontem as informações acerca das provas.


A cerca de e cerca de

Estas duas locuções, formadas pelo advérbio cerca e pela preposição de, têm o mesmo sentido: aproximadamente, quase, perto de ou nas proximidades de. A diferença entre as duas formas é que no primeiro caso é usada a preposição a antes do advérbio cerca, que algumas vezes é necessária, como veremos nos exemplos, sobretudo em função das regências verbal e nominal.
Exemplos: Os fãs fervorosos ficaram a cerca de 2 metros do palco.
Emagreceu cerca de 3 quilos.
Ela chegou cerca de 5 minutos depois do início do espetáculo.
Estava a cerca de 2 quilômetros do escritório.
As crianças estavam ansiosas cerca da mesa de doces.


Há cerca de

Neste caso temos o verbo haver mais o advérbio cerca e a preposição de e o significado de faz aproximadamente, faz mais ou menos.
Exemplos: Chegou há cerca de meia hora.
Deixei a cidade há cerca de dez anos.
O filme está em cartaz há cerca de dois meses.

***

Espero que com essas dicas a confusão não surja mais na hora da escrita.


(Fontes de pesquisa: Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O verbo haver como impessoal no sentido de existir

Geralmente em uma oração há dois termos principais, o sujeito e o predicado, sendo que este carrega o verbo que expressa a ação e aquele, a pessoa que comete essa ação. Mas há ocorrências de orações sem sujeito, que não apresentam nem mesmo sujeito oculto ou indeterminado. Nesses casos não é primordial atribuir a ação contida no predicado a alguém. O mais importante é o acontecimento em si.

Os verbos que regem essas orações são chamados verbos impessoais. O verbo haver, no sentido de existir (Há traças nas suas roupas) e nas indicações de tempo (Há dois meses não caminha sob o sol), está entre eles. Como os verbos impessoais não têm sujeito, apresentam variação apenas de tempo, e não de pessoa, e assumem sempre a forma de terceira pessoa do singular. Por isso, é um equívoco concordar verbos impessoais com os termos que os seguem. Vejamos:

Houve animais nesta casa e não Houveram animais nesta casa.

No exemplo dado, pode-se perceber que “animais nesta casa” é o complemento do verbo haver, e não o seu sujeito, já que não praticou ação alguma. Portanto, não há motivos para flexionar o verbo. É sempre bom lembrar que verbos impessoais não têm sujeito e por isso não apresentam flexão de pessoa (o que, como as palavras já dizem, os tornaria verbos pessoais).

Seguindo essa mesma lógica, verbos que unidos ao verbo haver tenham função de auxiliar também ficam no singular. Assim: Pode haver lutas e não Podem haver lutas.

Mas atenção, embora o verbo haver como impessoal possa ter o sentido de existir, se substituirmos um pelo outro na oração, deverá ser empregada a flexão de pessoa para o verbo existir, já que este não assume função de verbo impessoal. Assim: Existem traças na sua roupa. Nesse caso, “traças na sua roupa” assume a função de sujeito do verbo existir e há concordância entre eles.

Há ainda uma particularidade na relação entre os verbos haver e ter com o sentido de existir. Muitas vezes, vemos o uso do verbo ter em lugar de haver, como Tem duas meias no seu pé. De acordo com a gramática tradicional, esta forma é incorreta, pois o verbo ter carrega o significado de posse e não deveria assumir a função de existir, muito menos tornar-se impessoal. Mas, como essa substituição já está se tornando consagrada pelo uso, muitos escritores a empregam. Por isso, é importante lembrar que, no caso de admitir o uso de ter nesses termos, é preciso manter a mesma regra usada com o verbo haver. Assim: Tem duas meias no seu pé e não Têm duas meias no seu pé.

O verbo haver não é único a assumir a característica impessoal, tampouco essa é sua única forma, mas isto pode ser assunto para outra dica... Por enquanto, espero ter esclarecido a função de haver como existir.

(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna; Lições de Português pela Análise Sintática, Evanildo Bechara, ed. Lucerna; Dicionário Prático de Regência Verbal, Celso Luft, ed. Ática; Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7.)

"Tratar-se de"

Tratam-se de problemas pessoais ou Trata-se de problemas pessoais?

Em orações em que o verbo "tratar" signifique: 1. estar em causa; ser o que importa ou o que se debate; versar (a questão de que se fala) sobre; 2. estar a falar de; ser; 3. ter importância para alguém ou algo; adiantar, interessar*, o sujeito é indeterminado. Logo, se não há sujeito para que haja concordância, o verbo fica na terceira pessoa do singular:

Trata-se de problemas pessoais.




* De acordo com o Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0.7.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

“Se eu ver”, “se eu vir”, “se eu vim”, “se eu vier”?

Tendo em vista que não é o tamanho do post que mede sua utilidade, resolvi fazer uma breve exposição de algo que provoca certa confusão na hora de escrever: o uso dos verbos irregulares ver e vir, mais especificamente suas formas conjugadas no subjuntivo (ou seja, quando consideramos o fato algo incerto, duvidoso, eventual ou irreal).

Comecemos pela conjugação no presente do indicativo:
Ver
vejo
vês

vemos
vedes
veem*

Vir
venho
vens
vem
vimos
vindes
vêm**


Agora, vamos ao ponto em que realmente acontece a maioria das confusões:

Muitas pessoas se confundem com o futuro do subjuntivo do verbo ver e acabam dizendo “se eu ver”, sendo a forma correta “se eu vir”. Já me disseram: “'Se eu vir?' Nunca vi assim. É 'se eu ver'!”. Sim, a voz do povo é a voz que manda na nossa língua, mas a conjugação do verbo ver (ainda) não foi alterada. A forma “se eu ver” não existe. “Mas é 'se ele ver', não é?” Não. É “se ele vir”. O erro aqui ocorre pela troca do futuro do subjuntivo pelo infinitivo, notaram? Seria quase a mesma coisa que dizer “se eu fazer”ou “se eu querer” no lugar de “se eu fizer” e “se eu quiser”, respectivamente. E, na primeira pessoa do plural, como fica? “Se nós virmos”, e não “se nós vermos”. E na terceira? “Se eles virem”, e não “Se eles verem”.
Na conjugação do verbo vir, algumas pessoas também se confundem ao usar o futuro do subjuntivo: no lugar de “se eu vier” acabam dizendo “se eu vim”, ou seja, trocam o futuro do subjuntivo pelo pretérito perfeito do indicativo.

Abaixo, as três conjunções dos verbos ver e vir no modo subjuntivo:

Ver
Presente do subjuntivo
veja
vejas
veja
vejamos
vejais
vejam

Pretérito imperfeito do subjuntivo
visse
visses
visse
víssemos
vísseis
vissem

Futuro do subjuntivo
vir
vires
vir
virmos
virdes
virem

Vir
Presente do subjuntivo
venha
venhas
venha
venhamos
venhais
venham

Pretérito imperfeito do subjuntivo
viesse
viesses
viesse
viéssemos
viésseis
viessem

Futuro do subjuntivo
vier
vieres
vier
viermos
vierdes
vierem


Espero ter esclarecido algumas dúvidas em relação a isso!

(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7.)

* A terceira pessoal do plural no presente do indicativo do verbo ver não leva mais acento circunflexo (ver Acordo Ortográfico).
** A terceira pessoal do plural do verbo vir não mudou depois de assinado o acordo; continua com acento circunflexo.