terça-feira, 18 de agosto de 2009

Infinitivo: flexionado ou não flexionado?

O infinitivo é uma forma nominal do verbo, ou seja, além do seu valor verbal pode desempenhar a função de nome. Mais precisamente, o infinitivo pode ser também substantivo. Muitos devem ter ouvido na escola que o infinitivo é o nome do verbo, lembram?
Como verbo, na língua portuguesa o infinitivo pode ser impessoal, que não tem sujeito, porque não se refere a uma pessoa gramatical, ou pessoal, que tem sujeito e pode ser flexionado ou não. A partir daí costuma haver polêmica. Sempre surgem dúvidas quanto à flexão do infinitivo e a questão é controversa mesmo entre os gramáticos. A dica desta semana tenta esclarecer.

O infinitivo é flexionado...

1- Quando o seu sujeito e o do verbo principal são diferentes.
Exemplos: O chefe julgava estarem seus empregados superados.
Convém saírem vocês primeiro.
Peço-lhes o favor de não chegarem atrasados.

Caso o sujeito seja o mesmo, o infinitivo não será flexionado. Reparem nos exemplos que o sujeito das duas ações é o mesmo.
Exemplos: Quiseram fazer as pazes.
Declararam estar prontos.
Temos o prazer de lhe comunicar a vitória.

2- Quando o sujeito é indeterminado.
Exemplos: Ouvi dizerem que você canta muito bem.
Eu não deixei levarem o cachorro.
Ele viu executarem os criminosos.

3- Quando o infinitivo é o sujeito.
Exemplos: O morrerem pela pátria é sina de alguns soldados.
O quereres tudo me surpreende.

Observação: se houver dúvidas ao usar as “regras” acima, considere que o infinitivo é flexionado quando pode ser substituído por um tempo finito, em geral do indicativo ou do subjuntivo.
Exemplos: É preciso saírem logo. (saírem = que saiam)
Convém chegarmos ao fundo da questão. (chegarmos = que cheguemos)
O coronel intimou-os a se renderem. (renderem = a que se rendessem)

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O infinitivo não é flexionado...


1- Quando é impessoal (ou seja, não se refere a nenhum sujeito) ou é usado de forma impessoal.
Exemplos: É possível haver dúvidas.
Jurar falso é crime.
É proibido proibir.


2- Quando tem o valor de imperativo.
Exemplos: Meia-volta, volver!
Honrar pai e mãe.


3- Em locução verbal.
Exemplos: As crianças começaram a chorar.
Hoje vamos passar o dia na praia.
As peças estavam estragadas, devendo ser substituídas.
Costumavam os filhos reunir-se.


4- Quando com preposição que funciona como complemento de substantivo, adjetivo ou do próprio verbo principal.
Exemplos: O pai convenceu os filhos a voltar cedo.
Eram soluções difíceis de aplicar.
Receitas boas de fazer.
Continuamos dispostos a comprar a casa.
As emissoras conquistaram o direito de transmitir todos os jogos de vôlei.


5- Quando com preposição que aparece depois de um verbo na voz passiva.
Exemplos: Os jornalistas foram forçados a sair da sala.
As pessoas eram obrigadas a esperar em fila.

6- Quando com preposição que tem o valor de gerúndio.
Exemplos: As senhoras estavam a orar. (a orar = orando)
Os trabalhadores estavam a comer. (a comer = comendo)


Observação: nos demais casos de preposição ou locução prepositiva com infinitivo a flexão é opcional.

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Pois é, realmente não são poucas as considerações sobre a flexão ou não do infinitivo. É sempre válido tentar primar pela clareza e usar do bom senso. Para concluir, deixo a observação do gramático Napoleão Mendes de Almeida: “Devemos limitar a flexão do infinitivo aos casos de real necessidade de identificação do seu sujeito. Não verificada essa necessidade, deixemos intacto o infinitivo”.

(Fontes de pesquisa e de exemplos: Moderna Gramática Portuguesa, Evanildo Bechara, ed. Lucerna; Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Nova Fronteira; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)


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